quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

João e Maria - Trecho 4

- Este lugar você já conhece, é um antigo cemitério. Venha, queremos lhe mostrar algo.
- Ainda não entendi porquê estou aqui se não tem nada além de túmulos e um monte de lápides velhas Seu João Caveira.
Maria Quitéria dá um sorriso e manda-o aguardar em silêncio enquanto lhe fala algumas coisas.
- Observe tudo moço. Tenha atenção e respeito com o povo da calunga pequena. Você está enxergando só o que quer enxergar. Mas abra seus olhos ou volta exatamente ao lugar onde estava.
- Não consigo parar de tremer. Quero que tudo isso passe logo. Saindo daqui vou ao hospital.
- Você ainda não entendeu mesmo né? Acha que é brincadeira e que estamos lhe pregando uma peça. Em instantes você entenderá. Vá com João adiante, atrás daquela cova aberta. Tem um túmulo e uma dessas velhas lápides. Vá com ele. Aguardarei aqui.
- Vocês vão me jogar na cova?!? É isso?!?
- Vá. Simplesmente vá e confie. O que queremos que veja é atrás da cova.
O moço e João Caveira seguem por entre as lápides e passam pela cova. João Caveira apenas faz um sinal para o moço ficar atento e olhar bem tudo ao redor. Ele então percebe e grita.
- Meu Deus!!! É o meu nome!!! Minha foto nesse túmulo!!! Como pode isso?!? Então não é um pesadelo mesmo? Eu morri de verdade? Mas como não percebi?
- Tente se acalmar. Você morreu já faz anos. Mas não aceitou e ficou preso à existência na terra. Ficou preso às pessoas que convivia, perturbando-as com sua aproximação.
- Mas nunca quis isso. Nunca foi minha intenção. Sr. João Caveira, me explique, me ajude pelo amor de Deus.
- Por não querer prejudicar e por não ter se rendido às sombras e ter pedido socorro e ajuda, viemos até você. Viemos outras vezes mas você ainda não estava preparado. O lobo que você ouvia sempre, alguns alívios sem explicação. Atuamos onde podíamos. Onde você permitia. A evolução terá auxílio, mas só depende de você.
- Eu estou no inferno, é isso? Às vezes vejo uma caveira olhando seu rosto. E Maria Quitéria me dá arrepios.
- Você ainda não viu seu reflexo. Isso é típico do povo da terra ou dos que morrem e não percebem. Não se olham e perdem seu precioso tempo apenas cuidando do reflexo dos outros. Lamentável. E depois ficam vagando, moribundos, atormentados e atormentando seus familiares. Inferno e céu são vocês que criam. O estado em que você se colocou, realmente, eu chamaria de inferno.
- Eu estou recebendo uma chance? É isso?
- Uma chance de trabalhar. Somente isso por enquanto. Uma chance de mostrar que quer evoluir e abandonar esse estado deplorável e miserável. Se libertar de todos os vícios que teve na terra. Mais por Quitéria do que por mim. Alguém acima de nós mandou-nos lhe observar. Quitéria achou que era hora também. Mas se você aceitar estará sendo vigiado o tempo todo.
- E o que tenho que fazer?
- Você deve apenas saber que irá ter a chance de aprender, pagar pelo o que fez e evoluir. É o que posso falar agora. Desse lado, o plantio e a esperança em aprender a fazer o bem. É isso, ou voltar onde estava.
- Eu estava me arrastando e agora consigo ficar em pé. Vocês não podem ser ruins.
Quitéria se aproxima e interfere com voz forte e muita seriedade.
- Não somos balcão de milagres. Somos luz. Somos guardiões. Você se levantou porquê decidiu levantar. Estava na lama por suas escolhas. Abandone esse maldito vício terreno de botar a culpa de suas escolhas nos outros. Se tudo dá certo foi sua intuição. Se dá errado é culpa dos outros. Me poupe. E não faça eu me arrepender de ter ido te buscar.
- Me perdoe Quitéria. Ficarei em silêncio e tentarei aprender. Quem sabe saia de vez desse sofrimento.
- Veremos. Veremos. E me chame de Dona Maria Quitéria. Quitéria é só pra quem eu deixo e dou liberdade. E isso você não tem.

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